17.12.10

Bairros de Toronto II: o gay, o descolado, o dos gregos e o indiano


Pé da torre CN, vista do hotel Intercontinental

por Alessandra Cayley

WEST QUEEN WEST


A ponta oeste da Queen Street – ou West Queen West – é difícil de definir. Enquanto a parte mais próxima do Centro abriga superlojas como H&M, Mango e Nike, a ponta oeste reúne endereços vintage, galerias de arte e restaurantecos: mistura de high e low, consumismo e vibe alternativa. Anteriormente conhecido por seus quartos de aluguel barato, hoje os charmosos casarões de estilo vitoriano foram ocupados por galerias de arte contemporânea, lojas de decoração, antiquários e butiques transadas de estilistas locais.



Convivem pacificamente com estúdios de tatuagem e sex shops, além de cafés de ares retrôs e restaurantes brasileiros, chineses, indianos e até orgânicos. A mudança se deu de uns cinco anos para cá, depois das reformas milionárias por que passaram alguns hotéis. Além de injetar vida nova ao lugar, ditaram também o tom da balada, que vem transformando o pedaço no novo point gay de Toronto.
The Drake Hotel (1150, Queen Street West, 416/531-5042, 1-866-372-5386, thedrakehotel.ca; diárias desde CAD$ 189, sem café da manhã) ganha no quesito luxo cool e vive cheio de gente descolada. Além de estúdio de ioga, tem um bar supersimpático na cobertura e quartos equipados com CD/DVD player. Os corredores servem como galeria de arte.

Mais malucão ainda, The Gladstone Hotel (1214, Queen Street West, 416/531-4635, gladstonehotel.com; diárias desde CAD$ 165, sem café da manhã; Cc: A, M, V) não se parece com nenhum outro hotel que você possa ter visto.



O predinho antigo com elevador jurássico de porta sanfona passa uma sensação de décadence avec élégance. Artistas canadenses receberam carta branca para pintar e bordar, resultando em 37 quartos totalmente diferentes, todos ultracriativos e divertidos.


Apesar do jeitão alternativo, dispõe de lençóis de algodão egípcio e produtos de toalete orgânicos, produzidos na região. Ambos são perfeitos para quem quer cair na balada: basta pegar o elevador até o térreo e se jogar!
Sim, os points mais quentes do bairro ficam justamente nos seus bares (o karaokê semanal do Gladstone foi apontado como o melhor da cidade por nove vezes consecutivas). Acordar de ressaca e faminto não é problema: come-se superbem na Queen West.
No Caju (922, Queen Street West, 416/532-2550, caju.ca), restaurante brasileiro descolado que foge do estereótipo “feijoada com pagode” (a deles vem acompanhada de bossa nova), come-se boa picanha e moqueca ainda melhor. Se preferir não enfiar o pé na jaca, almoce algo leve no Fresh on Crawford (894, Queen Street West, 416/913-2720, freshrestaurants.ca). Cardápio natureba, com sucos, saladas, sopas e sanduíches sem manteiga, ovos, mel ou lácteos.

LITTLE POLAND


Até há pouco fora do circuito turístico, a área conhecida como Roncesvalles Village, ocupada por imigrantes russos e do Leste Europeu, vem ganhando destaque, de carona na ascensão da vizinha West Queen West. Ainda bem subúrbio, seu comércio está começando a florescer (e o cenário deve mudar com a construção acelerada de prédios de condomínios). Não há melhor lugar para provar pratos típicos das cozinhas russa e polonesa, com seus perogies, schnitzels e rolinhos de repolho, em restaurantezinhos como o Lala’s Bistro (145, Roncesvalles Avenue, 416/516-2577, metrô Dundas; 2a/6a 9h/0h, sáb 9h/19h, dom 9h/17h; Cc: M, V), com românticas fotografias em preto-e-branco nas paredes de tijolo aparente. Além da exótica (para nós) gastronomia polonesa, outro atrativo do bairro é o High Park (1873, Bloor Street West, metrô High Park, highparktoronto.com; grátis), o maior parque de Toronto, com mais de 400 acres de área verde. Cerca de 1 milhão de pessoas passam por ali, todo ano, para admirar a beleza do lago que margeia o parque ou tomar um solzinho deitado na grama. As árvores de maple, quando se tornam laranja e rubi no outono, não podem faltar no álbum.

INDIA BAZAAR


Chegar ao mercado India Bazaar, no coração de Little India, pode ser uma experiência decepcionante – ainda mais se estiver chovendo. O clima de abandono, com fachadas descascadas, toldos clamando por remendos e goteiras nas lojas, não anima. Mas, passado o baque, o que se vê é um pedacinho de Índia mesclado à Tailândia. Lojas e mais lojas vendem ricos saris multicoloridos, bordados à mão, com pedrarias, a preços de 30 a 3 mil dólares canadenses, dependendo da ocasião para a qual se quer o traje. Os vendedores, de túnicas, turbantes ou terceiro olho, além de sotaque carregado, não são de muitas palavras. Pesquisando, dá para achar echarpes de pashmina a um bom preço, em torno de 10 a 20 dólares canadenses. A culinária é um item à parte, com fartura de pão naan, curries mais ou menos picantes e chá pink, à base de amêndoa e pistache, tradição no Paquistão. O paraíso do curry é aqui: tem amarelo, verde, vermelho, defumado, suave, apimentado... Reduto de vegetarianos, é dos poucos lugares onde se encontra caldo-de-cana e mangas frescas, para alegria dos brasileiros expatriados. Vá para o almoço, pois as lojas costumam abrir depois das 13h. No Lanhore Paan Center (1435, Gerrard Street East, 416/462-3293; horário de funcionamento??? Cc??), o dono expõe na parede, com orgulho, recorte de jornal que aponta o lugar como o melhor da cidade para tomar o chá pink Kashmiri (CAD$ 2), estranho no começo, mas gostoso.


CHURCH-WELLESLEY



O reduto da comunidade GLS de Toronto anda perdendo um pouco da purpurina por causa do surgimento de outros polos gays, como a descolada West Queen West. Mas ainda dá para sentir, nitidamente, o clima aqui-vale-de-tudo que caracteriza o bairro.
Apelidada de The Village por seus frequentadores, tem umas plaquinhas fofas de nome de ruas com arco-íris, símbolo do movimento GLS. Dê uma passadinha na esquina das ruas Church e Alexander para ver a estátua do mercante escocês (e patrono do Village) Alexander Wood, primeiro homossexual assumido do Canadá. O pedaço ganha vida à noite e nos fins de semana, quando gays (solteiros ou não) lotam as ruas, bares e clubs. Muitos são nitidamente dirigidos ao público GLS, como o Zelda’s (692, Yonge Street, 416/922-2526, zeldas.ca ), que serve a cerveja Alexander Wood, especialmente feita para a vila. Outros estabelecimentos preferem não eleger preferidos.
O Fuzion (580, Church Street, metrô Wellesley, 416/944-9888, fuzionexperience.com), por exemplo, apesar de localizado no coração da vila, recebe gente de todas as tribos. No enxuto cardápio, nada ganha da sobremesa de chocolate branco e pistache, de matar de tão boa!

THE DANFORTH


Vibrante e ruidoso, o pedaço mais helênico de Toronto, também conhecido como Greektown, é dos mais heterogêneos. Pubs irlandeses e lojas de conveniência chinesas dividem espaço com tavernas e butiques gregas ao longo da movimentada Danforth Avenue, artéria principal do bairro ao qual empresta o nome. Resista, se puder, aos sapatos das butiques gregas espalhadas ao longo avenida.
E vá de barriga vazia para comer em um dos restaurantes típicos, como o Kalyvia (420, Danforth Avenue, metrô Chester, 416/463-3333), que se encaixa à perfeição no estereótipo, com decoração exagerada (muito branco e azul-turquesa, plantas penduradas por todo lado). Todos servem especialidades como carneiro assado, souvlaki com molho tzatziki (iogurte, pepino e alho) e o famoso saganaki. Esse queijo de cabra frito à milanesa é teatralmente flambado com brandy na frente do cliente, ao som de um redondo “opa!” exclamado pelo garçom.

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