18.5.10

Grace Restaurant em Toronto


Conclui que, para um restaurante ser considerado ótimo não precisa, somente, oferecer comida boa, staff bem treinado e uma carta de vinhos decente. Isso tudo o Grace tem. Só não tem uma proprietária que saiba controlar o estoque da casa e contornar, com elegância, problemas de última hora.

Apertadinho no meio de mais dois restaurantes (um acabou de fechar) na famosa College Street (famosa justamente por seus bares e restaurantes), o lugar pode passar batido, mas um olhar mais atento e o que se vê é um ambiente acolhedor, decorado com despretensão calculada. Tijolinhos à vista pintados de branco, retratos antigos e muito bege e azul-piscina nas paredes, o que dá ao lugar um clima de casa de amigos.

Soube dele através de um tradicional guia de restaurantes da cidade. Queria um lugar especial para comemorar os cinco anos de casamento. Mais tarde, o reconheci em listas de lugares favoritos de socialites de Toronto.

Chegamos, eu e meu marido, uns dez minutos antes do horário reservado. Nossa mesa ainda não estava pronta e somos levados até um pequeno lounge, no andar de cima. Uma simpaticíssima garçonete nos sauda e nos convida a beber enquanto esperamos, prontamente nos informando dos vinhos em falta: dois ou três dos que havíamos pensado em pedir.

Uma taça inteira de vinho depois, somos levados à nossa minúscula mesa, tão junta à do vizinho do lado que mesmo uma modelo teria dificuldade em se sentar sem causar constrangimento.

Daí para diante, foram três baguetes de pão com manteiga, para passar o tempo e matar a fome até que o prato principal chegasse, o que ocorreu mais de uma hora depois. O petisco veio antes - quatro quadradinhos de um extraordinário ravioli recheado com queijo ricota. Supostamente suficiente para duas pessoas, só fez foi assanhar o estômago.


Minha truta, acompanhada de pimentão vermelho, chouriço, fatias assadas de batatas, salsinha e azeitonas pretas (tudo muito pouquinho, pequenininho e mirradinho) não durou mais de cinco minutos (uma das vantagens em estar casada é poder comer o prato todo!), assim como o delicado papardelle (um fettuccine bem mais largo e extenso) com molho à bolonhesa do meu marido.

Enquanto isso, o grupo da mesa ao lado tentava pagar a conta, e aí foi que o barraco chique rolou: as máquinas de cartão de crédito deram pane e os clientes não tinham nem dinheiro suficiente nem cheque. Insatisfeito, um deles descontou no gerente: "Primeiro não tinha o vinho que queríamos, depois não tinha mais cordeiro, e agora não podemos nem pagar a conta?!" O gerente, possesso, sai de cena e volta com a dona (que não se chama Grace, e sim Lesle), que não ajudou em nada a situação, se alterando ainda mais com o frustrado cliente, que ameaçou sair sem pagar, ignorando a oferta de sobremesa cortesia.

Infelizmente, não sei que bicho deu, mas eu, no embalo da onda de insatisfação, pedi um café, enfatizando que esse deveria ser por conta da casa, pela demora. O garçom me deu uma olhada, tipo "vou ver o que eu faço" mas voltou com o consentimento do gerente estrelinha.

Já de bolsa no ombro, vejo o mesmo gerente vindo, esbaforido, em nossa direção, com uma vela acesa e um prato na mão. Nele, os dizeres "Happy Anniversary" escrito com chocolate em calda. Fofo, quase chorei, e agradeci como se estivesse ganhando o Oscar, mas…o que fazer com aquilo? Lamber o prato? Quem? Eu, meu marido ou os dois juntos? O jeito foi passar o dedo no chocolate, experimentar e rir. Ao menos, tivemos uma história inusitada para contar da nossa comemoração.




Grace Restaurant, 503 College Street, Toronto
(416) 944-8884

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