8.6.10

Barricadas sim, diversão não para a chegada da cúpula do G20 em Toronto

Eu já falei que Toronto ferve no verão, e um pouco antes dele: é só fazer um solzinho e os torontonianos botam os gambitos branquinhos de fora. O pessoal adora um oba-oba, um festival, uma corrida pra arrecadar fundos, seja lá pra quê. Só tem uma coisa acontecendo na cidade agora em junho que não parece estar agradando muito, não: é a reunião do Grupo dos 20, ou G20, formado por líderes de países emergentes que se reúnem mundo afora para discutir problemas globais (países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e países membros da União Europeia).

Dessa vez, a reunião vai ser aqui em Toronto, logo após outra grande, senão maior e mais importante: a do pessoal do G8, os líderes das nações mais industrializadas e desenvolvidas do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido), mais a Rússia.

Enquanto essa reunião vai ser realizada a 200 quilômetros de distância de Toronto, em Huntsville, na exclusiva e belíssima região dos lagos de Muskoka, o pessoal mais pobrinho do G20 vai ter que se contentar em tirar foto da Torre CN mesmo.


Video oficial do G8 em Muskoka/YouTube

Na pauta, tópicos quentes, como o temor de contágio da crise econômica que está pairando na Europa (a Grécia já foi contaminada) e a ajuda por parte de nações ricas para o sistema de saúde de países pobres. Esse último, saia-justíssima para o Primeiro-Ministro do Canadá, Stephen Harper, que se nega a bancar iniciativas de ajuda a planejamento familiar e controle de natalidade se o aborto estiver entre as opções. Nota: no Canadá, a prática de aborto é legal.

Mas, o que está deixando os canadenses azedos mesmo é a conta da brincadeira toda: mais de 1 bilhão de dólares estão sendo gastos somente na segurança dos dois eventos. Mais 2 milhões foram alocados para a construção de um centro para a imprensa em Toronto, com direito a lago indoor artificial, lembrando os de verdade, em Muskoka, além de cerveja e vinho de graça. Obrigada, Harper!

Em Toronto, o desagrado é também devido às mudanças e restrições impostas à cidade antes, durante e depois do final de semana do evento, que ocorrerá entre 25 a 27 de junho. Quarteirões inteiros serão fechados no perímetro que circunda o Metro Toronto Convention Centre, local do evento, que fica grudadinho à Torre CN e a passos da mais importante estação de trem e metrô da cidade, a Union Station (veja o mapa do perímetro de segurança abaixo ou no link).

Metro Toronto Convention Centre, do lado da Torre CN

Entrada principal do Metro Toronto Convention Centre

Mapa do perímetro de segurança para a reunião do G20, pegando partes do centro financeiro e do entretenimento da cidade

O povo aqui não brinca com segurança, não: barricadas de concreto estão sendo levantadas entre ruas próximas, para evitar a chegada muito próxima de protestantes. Quem quiser protestar que vá para as áreas designadas pelo governo: uma parte do Queen’s Park (lembra que eu falei ontem?), longe do local da reunião.

York Street, uma das mais movimentadas ruas do centro de Toronto, ao lado do hotel Intercontinental e Metro Toronto Convention Centre; interditada para a construção de barreiras contra protestos ao G20, em Toronto. Foto tirada ontem, por volta das 6 da tarde


Residentes e pessoas que trabalham dentro da área de segurança terão passes especiais para entrar e sair de suas casas e escritórios, e quem não tiver, vai ter que provar por A+B o que tem que fazer ali de tão importante.


Imediações da Union Station ontem, na hora do rush, entre 5 e 6 da tarde

Ruas próximas, como a importante Bay (a avenida Paulista de Toronto), avenida Yonge e a York (ao lado do pavilhão) serão fechadas ou parcialmente bloqueadas, como no caso da Bay e Yonge (já pensou interditar a Yonge inteira? Ela é a avenida mais longa do mundo!).

Trens, ônibus e metrô funcionarão normalmente, mas a empresa de trens Via Rail já avisou que não irá parar na Union Station entre os dias 24 a 27 de junho, just in case. Os passageiros terão que descer em estações próximas e, de lá, pegar um ônibus traslado até Toronto. Haja dor de cabeça: a Union Station está para Toronto como a Estação da Luz para São Paulo e Central do Brasil para o Rio de Janeiro.

Sem contar que turista que estiver na cidade nesse final de semana vai perder viagem: muitas atrações e casas de espetáculos vão fechar as portas nos dias do evento e nos que o antecedem, por segurança. Nada de Torre CN (que fica colada ao local da reunião, já pensou que perigo?), AGO (Art Gallery of Ontario), peças de teatro, como Mamma Mia (em cartaz no Prince of Wales Theatre) ou Rock of Ages (no Royal Alexandra Theatre). Somente os estudantes da U of T (Universidade de Toronto) é que estão felizes com tudo isso: os exames para esse período serão devidamente remarcados. Veja a lista completa do que fecha e do que abre aqui.

Tô com dó do Lula e seus amiguinhos. O que eles vão fazer nas horas de folga? Espero que o pessoal que coordena o evento tenha lembrado de instalar umas TVs para eles, pelo menos, poderem acompanhar os jogos da Copa, coitados….

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