26.8.10

Se dirigir em Toronto, prepare-se para ser multado

Uma coisa que eu nunca falei sobre Toronto, mas que você deve saber, se quiser morar e/ou dirigir nessa cidade: os policiais brotam do chão, por aqui. Brotam, juro que brotam.

Minhas amigas também não acreditavam até verem com seus próprios olhos. Eu já havia contado a elas o que aconteceu comigo, semanas atrás, quando levei um pé da minha sandália amarela para consertar. Coisa simples, o sapateiro mandou eu voltar para pegá-la em cinco minutos. Fiz o que tinha que fazer e, claro, entrei no carro, e já ia indo embora. Esqueci minha sandália amarela e só lembrei quando passava pela sapataria. Vi carros estacionados à esquerda da rua, e parei também, afinal de contas, vi carros parados no mesmo lugar, então, achei que estava certa. Coisa de cinco segundos e uns 50 metros da sapataria.

Não deu tempo nem de percorrer 10 míseros metros e um carinha de bicicleta passa gritando: “Tão multando seu carro!”. O quê???!!!!

Olho pra trás e não é que a tal da guardinha já estava estacionada, na frente do meu carro (como eu não a vi passar?), mandando a caneta (eletrônica, dá licença)?

Corro que nem uma doida pra tentar reverter a situação. Eu REALMENTE devia estar com cara de tresloucada, porque ela, depois de muita insistência e explicação de que tudo isso foi só por causa de um pé (não o par) do meu sapato favorito – e amarelo – que precisou de um conserto rápido, e que eu o esqueci, e eu achei que estava certa, e os carros parados atrás de mim.......

Resultado: não levei multa, mas tirei o carro de lá e parei num estacionamento pago. Nem acreditei na minha sorte. O rapaz da sapataria - que assistiu a cena de camarote – ficou com tanta dó que nem cobrou pelo conserto. Ah, sapato amarelo que vai ter história pra contar.

O sapato da discórdia...digam se não vale a pena ser multada por ele...?

Mas, como diz o ditado: “a sorte não bate duas vezes à mesma porta”, e eu aprendi que ditados são universais. Levando minhas amigas para o outlet da LaSenza em Mississauga, sigo o mapa que meu marido me desenhou e faço tudo certinho até chegar num farol em que devo virar à direita. Em Toronto, pode-se virar à direita mesmo quando o farol estiver fechado. Quer dizer, nem todos os faróis. Claro, esse fazia parte da exceção.

Assim que eu viro, bum, vejo um carro de polícia atrás de mim, sirene ligada e tudo. Minhas amigas: “Mas eu não vi nenhum polícia ao redor!” E eu: “Não falei que eles brotavam do chão?!”

Dessa vez não adiantou argumentar que eu não sou daquela cidade, que nunca dirijo por lá, que estava tão concentrada seguindo meu mapinha (que meu marido fez, apontando para o mapa, para ver se amolecia o coraçãozinho duro dele, mas nada...), que os descontos da LaSenza são tão bons que eu não conseguia mais pensar em nada (brincadeira, eu não disse isso...!).

Levei uma multa “gravíssima”, de 110 dólares, dada a mim com a pergunta se eu tinha mais alguma dúvida ("no, sir") e a explicação para ler minhas opções no verso. "Thank you sir", por arruinar meu dia e tirar 110 dólares do meu budget para lingerie.
Multa...amarela, para combinar com meu sapato...?

Passada a tremedeira e o medo de tirar o carro do lugar e mais algum guarda brotar do chão novamente, eu li minhas opções, que são:

1) pagar a multa e ficar quietinha
2) não pagar a multa e pedir um julgamento para aliviar o valor e os pontos da multa
3) não pagar a multa, não admitir a culpa e ainda pedir julgamento do caso

Adivinha qual foi minha opção...? Claro, a terceira, o que todo mundo faz por aqui, não só eu, viu?

Opção 3: mesmo pego em flagrante, negue tudo e ainda peça julgamento. Afinal de contas, as coisas nem sempre são o que parecem ser (e eu, realmente, não vi o tal do sinal, juro!)

Apesar de o processo de pedir uma reavaliação da multa ser um pain in the butt (o “pé no saco” brasileiro), ainda compensa, não só pelo valor monetário mas, principalmente, pelos pontos na carteira.

Por aqui, seguro de carro, assim como de casa, é obrigatório, e é atrelado à sua conduta como motorista. Levou muita multa, pegou muitos pontos, paga-se mais pelo seguro, que não é nada barato.

Lá vai eu no Ontario Court of Justice para fazer minha opção por julgamento, que será marcado dentro de seis meses. Só quero ver o que vai dar. Nunca pisei numa corte antes, que dirá em inglês e por causa de uma multa de trânsito. Don’t worry, eu te conto tudo, por aqui. Só espero que eles tenham WI-FI na prisão...

3 comentários:

  1. só tenho a dizer:

    ... bem feito!

    Ass: um amigo grosso

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  2. PS: acabei de transferir os pontos para a carteira de um tal "amigo grosso"... ;)

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  3. BR sendo BR, Oooo jeitinho!!!

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